sexta-feira, 10 de julho de 2015

Do amor-próprio



Alguém que tive o privilégio de conhecer esta semana fez-me uma pergunta bastante pertinente: qual vai ser a relação mais duradoura da tua vida? O meu irmão!, respondi eu sem hesitar. É o meu melhor amigo, a pessoa com quem mais partilho código genético, apesar das curiosas diferenças que nos distinguem e que nos fazem ser ainda mais unidos.

Resposta errada, claro está.

A relação mais duradoura da minha vida é a que tenho comigo própria, e como todas as relações, nem sempre tem sido fácil. Dias houve em que pensei para mim própria o quão farta estava de ser eu, de coabitar comigo própria, tal era a complexidade de desafios que a mim mesma me colocava. Se para amarmos outras pessoas é precisa disponibilidade, amar-nos a nós próprios requer uma disponibilidade infinitamente maior. Será talvez um dos mais permanentes desafios com que teremos que lidar ao longo das nossas preciosas vidas.

Olhando para trás, e para as relações que fui tendo, fossem elas de amor ou de amizade, percebo claramente que algumas delas não foram bem-sucedidas pela minha indisponibilidade em me amar a mim mesma, antes sequer de pensar em amar o outro. Esta mesma pessoa que me fez essa pergunta, de uma perspicácia e sagacidade acima de média, usava uma analogia bastante interessante, e que vou guardar como ferramenta indelével neste exercício tão difícil de praticar que é o amor-próprio: não existe “a outra metade da laranja”. Existem sim “laranjas” que caminham juntas, que fazem um percurso, que crescem, se acrescentam, e por essa via evoluem. Aceitarmos esta premissa é meio caminho andado para que à medida que as pessoas que vão cruzando o nosso caminho, e se por algum motivo se afastarem, isso não constitua para nós uma tragédia pessoal, mas sim uma parte inevitável do longo percurso que é a vida. Talvez por ter acreditado por tanto tempo na outra metade da laranja, fui eu própria uma laranja incompleta.

Tenho tido a sorte de encontrar pessoas extremamente ricas que comigo têm partilhado ensinamentos preciosos. À medida que fui crescendo e que fui travando as minhas batalhas pessoais, apercebi-me que apesar de ser importante focarmo-nos no aqui e agora, na ideia do “um dia de cada vez”, é também importante fazer aqui e ali uma análise macro da nossa vida, olhar para trás e para a frente, perceber o que falhou e o que se quer evitar repetir de errado. Há feridas que por vezes damos como curadas, quando na realidade não estão senão arquivadas algures dentro de nós, prontas a doer mas nos sentirmos mais frágeis ou desprotegidos. Algumas delas são tão dolorosas, que o tempo inteiro de uma vida não é suficiente para as sarar. É importante reconciliarmo-nos com isso, porque nem sempre vamos conseguir resolver tudo, e não será à base de pensos rápidos que vamos chegar a algum lado.

Amarmo-nos, a nós próprios em primeiro lugar, prioridade primeira da nossa existência. Só assim seremos capazes de alguma vez amar verdadeiramente aqueles que vão fazendo parte das nossas vidas.a

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