segunda-feira, 10 de novembro de 2014

manhã



Deixei-me ficar a observar-te enquanto no teu rosto se desenhavam subtis esgares de prazer em absorvendo a luz que invadia o quarto, e acordavas para mais um dia em que te vou amar. Assim desarrumada na tua imperfeição, ainda mais perfeita me és. Bocejas ainda as memórias dos sonhos que sonhaste, e dentro de minutos, os pós e os líquidos da tua maquilhagem vão tomar conta do teu rosto, para te aprontar para os outros. Mas aqui, desalinhada e descomposta, só eu me posso deleitar de te ver assim cândida, os teus olhos devolvendo-me os brilhos essenciais da manhã, as primeiras esperanças do dia que aclara, as ambições de toda uma vida. Seguir os teus movimentos relembra-me o sentido mais primordial da existência, a urgência primeira de me satisfazer em te ver a ti satisfeita, radiante, feliz, amada, completa. E que nada mais importa senão tu e eu, que quase expludo de felicidade quando te vejo sorrir, que trocava a minha vida inteira por uma noite partilhada contigo. Em eterna doçura beijas-me a testa, os teus cabelos caem sobre o meu peito, apartas-te de mim e foges para a cozinha. Pouco depois chegam-me os vapores do café que preparaste. Cheiras-me ao açúcar que deitas na chávena e a campos onde a chuva acabou de cair, cheiras-me à visão límpida do infinito que fica quando as primeiras águas do outono assentam as poeiras da terra, deixando limpo o teu pedestal. Estranha divindade que tu me saíste. 


Porra, estou atrasado.  Outra vez.

Sem comentários:

Enviar um comentário