quarta-feira, 15 de outubro de 2014



“Só há um recanto no universo que estamos certos de poder melhorar, o nosso próprio eu”. 
Aldous Huxley

No meio da música frenética e da pista onde somos inevitavelmente acotoveladas, ela abraçava-me com força enquanto me dizia tu tens tanto. DIZ?, gritei eu confusa, ao que ela repetiu tu tens tanto. E abraçadas ficámos enquanto deixámos a música - cujo amor partilhamos com a mesma intensidade – embalar-nos por mais uns minutos, por mais uma noite, por mais um verão.

Já não estava habituada a ouvir frases deste calibre emocional.

Sempre me dei melhor com o preto das palavras no branco do papel, que com a timbre da minha voz a ressoar naqueles que amo. Escrever é mais fácil, tira-me a sensação de ridículo com que sempre fico quando tenho que dizer a alguém

gosto mesmo de ti.
amo-te mesmo muito.
quero-te mesmo muito. SÓ. PARA. MIM.

Se tenho muito ou não, isso já não sei, não sei senão que penso muito. Muito mesmo, demasiadamente, ao ponto de me doer o tanto que penso as coisas, os sentimentos, o tempo, as dificuldades, as alegrias, a vida em geral, em tudo o que tem de bom e de mau. Lembro-me a esse propósito de um amigo com quem trabalhei em tempos, amigo esse que manifestava sempre a uma determinada hora do dia uma tremenda satisfação, porque o sol ao entrar pela janela lhe batia nos pés, aquecendo-os. Embora compreendesse a dimensão desse regozijo como uma coisa tão normal, de alguma maneira invejava-o ao de leve, por não ser eu própria o tipo de pessoa que se satisfaz com uns minutos de “sol a bater nos pés”. Quando a resignação deixa de constar no nosso dicionário pessoal para dar lugar à obstinação, há uma inevitável tentativa de multiplicação desses momentos em que o “sol nos bate nos pés”. Uma busca que chega a ser cansativa por esses tais momentos em que sentimos que temos tanto. E afinal, todos nós temos tanto. 

É só parar para escutar.

(TU também tens tanto, Verinha querida)*








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