quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Gil Dionísio | photo @ Isaac Pereira 2012


Pego no caleidoscópio para te ver mais de perto. Desfaço-te em mil pedaços que hão-de suster-se por todo um dia e toda uma noite no mais alto recanto do meu imaginário. Acordaste heróico e poético hoje, e do meu peito procuro sem descanso exorcizar-te, expurgar cada pegada que me imprimes, cada pedaço da tua derme que vai ficando suspensa na matéria e no nada. E doem-me tanto, mas tanto os teus olhos. De te olhar vivo num arrepio constante, a tua dor acossada à minha, imberbe e serena, como dor que acaba de sair do ventre ensanguentado que pare esta noite.

Do heroísmo e da poesia de que hoje me deste a beber, extraí o mais delicado néctar, para logo a seguir dele te hidratar também. Ousada, insinuarei também um pé descalço, depois o outro, e hei-de seguir até ti os acordes com que me atrai e submete o violino que ora abraças. 

Não me derrames mais esse olhar. Deixa de ser penumbra e faz-te lua cheia, que dela preciso para me alumiar os caminhos. E este dia e esta noite que ainda temos pela frente serão então por fim nossos, seja para sempre, seja para nunca.

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