sábado, 21 de dezembro de 2013



As pequenas peças do isqueiro, apertadas umas contra as outras, esgrimem o som metálico que antecipa mais um cigarro. Aceso o vício, oiço o fumo percorrer o caminho que o separa entre os lábios e as paredes dos pulmões, para ser depois expelido corpo fora. Os trejeitos tecidos pela garganta no exercício da sucção e da expulsão ouvem-se à distância. O corpo nu devia ser visível. Mas não é, nunca o foi, nem nunca o há-de ser. Só os sons do fumo acima abaixo acima abaixo são evidência de uma presença mais passageira que o tempo que tentamos agarrar e sempre nos foge. Assim te vestiste de tempo, fugaz e esquivo, e assim me despiste à força das evidências, exposta, despojada, vulnerável. 

A noite que hoje começa é outra. E nela nem tempo que escapa, nem corpos que não se despem, músicas que não se ouvem, contactos que nunca chegam a tocar. E a individualidade que é afinal tão boa. 


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