domingo, 29 de dezembro de 2013



Açafrão-da-terra, cardamomo, coentro, gengibre, cominho, casca de noz-moscada, cravinho, pimenta canela. 

Como virgens noivas que algum noivo esperem, aguardam o momento em que amassadas no almofariz se hão-de abrir em sabores de outro continente, vendo levado ao expoente máximo todo o seu potencial sensorial. Apertadas umas contra as outras, em caril despertam, retiradas ao sono mole em que se viam até então adormecidas. 

Delicio-me no movimento que os teus lábios desenham enquanto falam encantados sobre especiarias. Encantada me encontro também, pendurada que fico na cadência de cada palavra que reproduzes, e que sempre me sabe a sabores que desconheço. De lacónico pouco tens, e descreves cada sabor e cada aroma como só um ser apaixonado poderia descrever o corpo do amante a que calhe entregar-se. E por distintos que sejam os sons que te oiço, em todo e cada um deles reconheço apenas o sentido da proibição, um instinto pecaminoso que invariavelmente remete para o eterno platonismo de que são feitos os ténues laços que nos prendem. O fumo que te ofereço à boca sabe também ele a interdição, e de to dar a conhecer me contento, por reconhecer como válida cada negativa que impera esta estranha e nunca começada relação. 

Da tua boca pudesse eu provar, e resolver de uma vez por todas esta incógnita que me assola. Saberás a cardamomo ou a café? A fumos ou a canelas distantes? Um sarilho, tu és.

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