quarta-feira, 25 de setembro de 2013

photo @ JP.Fernandes notaloneinmybrain

In waves the ships have all sailed to the sea
Well do you wanna wait or leave with me tonight
Cross your heart and pray the ocean will take us all the way in...

Deftones, Bloody Cape

Uma deriva sem amarras nem portos, sem faróis nem faroleiros. Tempestades, trovoadas, vendavais, cascos furiosamente postos à prova, velas rasgadas, corpos jogados ao chão. Que há mais marés que marinheiros, dizem-me. Que da tormenta se faz calma. Rendo-me ao porão e atiro-me para o meio de caixotes de madeira putrefacta que por lá deslizam, rendidos que estão ao capricho da maré alta e revolta que agita este barco, sem rei nem roque, nem capitão que o leve a bom porto. As falhas rasgam-me a pele, cortam-me os pés, devoram-me o corpo e revolvem-me por dentro o que não consigo curar por fora. Desfeita de madeira, recolho os destroços de mim mesma e lanço-os borda fora. Que hão-de dar à costa numa praia qualquer onde tu vais estar, para que os recolhas e os engulas um a um, garganta abaixo, e que neles a faringe e a laringe se te cortem e te sangrem e saibas por fim que a mar salgado não sabe o amor que não se dá, mas tão só e apenas a sangue.


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