quarta-feira, 14 de agosto de 2013

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A música já tocava cá dentro ainda antes de me reconhecer como gente. A minha mãe contava-me a história de como só descobriu estar grávida num concerto, em que aparentemente terei começado a pontapeá-la, como que reclamando um espaço cá fora onde também eu pudesse sentir a actuação que estava a perder escondida dentro da sua barriga. O violino acompanhava-me para todo o lado praticamente desde os primeiros passos titubeantes, e quando comecei a deslindar-lhe todas as manhas, todos os segredos, nunca mais o larguei. Em cada acorde, descobria mais sobre mim e sobre o que tenho dentro. E quando se envereda numa descoberta desta dimensão, dificilmente se consegue voltar atrás. A profundidade de nós próprios tem mais que se lhe diga do que julgo que a maioria de nós terá capacidade de compreender. Quando se vive atormentado com perguntas para as quais nem sempre há resposta, o mundo assume uma complexidade que ora seduz, ora repulsa, consoante as perguntas fiquem ou não por responder. Nessas alturas, penso que gostava de me questionar menos, de ser menos exigente, menos curiosa, menos sedenta de vida. Aqui, vem-me sempre à memória o de poeta e louco, todos temos um pouco. A poder escolher, tomara eu ser menos poeta e mais louca, alheia aos pontos de interrogação que me pairam sobre a cabeça. Não havendo remédio que trate destas maleitas, agarrada ao violino continuo a demanda, na esperança de um dia ter mais respostas, e menos perguntas. 

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