quinta-feira, 1 de agosto de 2013

12 Janeiro 2008 - 15 Abril 2013

photo @ Ricardo Brito 2013


Teoricamente, só há uma possibilidade perfeita de felicidade: acreditar no indestrutível em si sem a ele aspirar. 
O indestrutível é um; cada indivíduo o é ao mesmo tempo que é comum a todos, daí esse laço indissolúvel entre os homens, que é sem exemplo. 

Franz Kafka, Meditações 



Uma das ínfimas vantagens que se pode retirar de levar muita pancada ao longo da vida, é que se chega a um ponto em que já são poucas as coisas que nos fazem cair do cavalo. Seja numa tentativa de preservar a sanidade mental, ou porque de uma maneira ou de outra se aprende a viver melhor a dor, a desconstrução da tragédia e a sua relativização passam a ser uma maneira de estar da qual depende a sobrevivência no geral. No meio de tantas negligência, de tanto esquecimento, de tantas expectativas frustradas, de tanto amor não recebido, é uma missão quase impossível não resvalar para o abismo, baixar a cabeça e aceitar a derrota, colocarmo-nos a nós próprios no centro da culpa e vandalizar a réstia de auto-estima que daí possa sobrar. 

Mas comigo não foi assim. Resiliente, fui à luta de todas as vezes, combati todas as batalhas e saí de quase todas de cabeça erguida. Com sequelas, é certo. Mas inteira, determinada, combativa. Foi assim quando tive idade para perceber que tinha um pai que não me queria, foi assim quando a minha casa deixou de ser um porto seguro, foi assim das vezes que a mãe nos deixou, foi assim quando perdi os avós, e foi assim quando perdi o amor de uma vida.

Sacudida a poeira, revoltas as entranhas, e sinto-me mais forte e invencível do que nunca. Olho ao espelho e fico orgulhosa do que tenho à frente. No abraço em que me estendo, compreendo que o que está por vir nunca poderá ser pior do que o que já foi. Não, no que depender de mim. E levantando a cabeça uma vez mais, sigo destemida à procura do que me está reservado. Porque apesar de todo o potencial de auto-destruição que me foi dado em herança, consigo mais do que nunca gostar de mim e da pessoa em que me tornei. 

E não há nada que pague isso.

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