segunda-feira, 29 de julho de 2013

photo @ Ricardo Martins 2011
A última vez que estive com ela antes de ser hospitalizada, cerca de seis meses antes de nos deixar, foi aqui. Estávamos as duas tão felizes por estarmos finalmente sós, por nossa conta e risco, que poucas palavras conseguem descrever o bem que soube aquela tarde de Setembro de 2006, alcançado que estava esse sonho de independência que alimentei por tantos anos. As duas com a vida toda pela frente, cheias de sonhos por sonhar, esperanças por cumprir, metas por alcançar. Sentadas na muralha, saboreámos o nosso último gelado juntas, sentimos o mar juntas pela última vez, e demos as últimas gargalhadas que nos foram permitidas, totalmente alheias ao espectro dessa palavra a pairar solene sobre as nossas cabeças. 

Último, última, último, última. 

Depois dessa tarde, só os meses penitentes de hospital em jeito de doloroso retardador à dor, e depois o vazio. Um vazio brutal e incólume, adequado à dor que é perder alguém que se ama tanto, alguém que se ama mais que tudo.

Foi também aqui que meses depois se iniciou o delicioso processo de devolução à vida. A despedida dava agora lugar ao encontro, à excitação do desconhecido ainda por acontecer. O gerar de uma vida nova a ter lugar diante dos meus olhos, e sempre este lugar como pano de fundo, perfeito para todas as ocasiões.

Há sítios assim mágicos, que nos marcam a vida e são verdadeiros bálsamos quando a alma precisa daquele aconchego especial. Aqui ri e chorei, fui feliz e apaixonei-me, fiz amizades que vou levar para a vida e por cá continuo, a querer ser mais e mais feliz. 

E pelo meio fica sempre bem aquele Porto, que tristezas não pagam dívidas e sempre se revigora o espírito à força desse mosto perfeito.

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