quarta-feira, 29 de maio de 2013

Estávamos no Cais do Sodré e deviam ser já umas seis da manhã. Ele era mais ou menos amigo de uma amiga, e em cerca de trinta segundos gritei-lhe irada a história da minha vida, depois de por duas vezes me ter dito que me ria pouco. E não fossem já freudianas o suficiente as situações porque já passei, estava agora a braços com uma dolorosa separação que insistia em não parar de doer. Rio-me pouco? Possível, mas e afinal vou rir do quê, se dentro tenho um coração feito em peçados?

A caminho do carro, e depois de ter ficado estático no meio da estrada a olhar-me incrédulo, lá conseguiu articular um mas há uma coisa que não percebo, como é que tens forças para sair da cama de manhã? Não consegui devolver qualquer resposta, porque eu própria não a sei. A sobriedade já era pouca, a paciência ainda menos. Ele ainda fez a pergunta mais uma vez, e ante a minha inércia em elaborar um raciocínio coerente, acabou por desistir das perguntas difíceis e ilações sobre a quantidade dos meus sorrisos.

E desde então, não consigo parar de pensar na demanda que aquele desconhecido me lançou e para a qual estou até hoje sem conseguir responder. Não sei de onde vêm as forças, como se gera a motivação, que mecanismos fazem as minhas pernas mexer, beber o café, vestir o melhor trapo que calhar a sair do armário, escovar os dentes, encher as caixas com a sopa, a salada e os cereais, trocar chaves e carteiras de umas malas para as outras, bater a porta e enfrentar mais um dia igual aos outros.

Gonçalo (era esse o teu nome?), não me podias ter perguntado outra coisa?...


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